Outrora
fundamentais no desenho das fronteiras nacionais, os fortes brasileiros hoje
são salvaguarda da história e da cultura do país. E para que esses equipamentos
sigam cada vez mais vivos, atraindo e não mais expulsando visitantes, o Recife
sedia de terça-feira (4) até sexta-feira (7), no Museu da Cidade do Recife, o Seminário
Internacional Fortificações Brasileiras – Patrimônio Mundial: estudos para
análise de modelos de gestão e valoração turístico-cultural, promovido pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Um
dos principais pontos da pauta do encontro, que reunirá gestores de
fortificações e agentes públicos do Brasil, da América Latina e da Europa, será
a confirmação da candidatura de 19 fortes do país ao título de Patrimônio
Cultural Mundial, conferido pela Unesco. O Forte das Cinco Pontas é um dos
integrantes desse grupo de equipamentos históricos prioritários do país, que o
Iphan classificou como Conjunto de Fortificações do Brasil, e que esperam o
reconhecimento da Unesco. Outros dois equipamentos pernambucanos estão nessa
lista: o Forte do Brum e o Forte Orange.
O
grupo é formado ainda por fortes localizados no Amapá, Mato Grosso do Sul,
Rondônia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e
Santa Catarina. Todos, de acordo com o Iphan, são produtos da ocupação marítima
portuguesa e holandesa, representando com a máxima fidelidade as construções
defensivas implantadas àquela altura nos pontos que serviram para definir as
fronteiras marítimas e fluviais do Brasil, que mais tarde viria a ser considerado
o maior país da América Latina.
"A
inclusão do Forte das Cinco Pontas na rede de dezenove fortes construídos no
Brasil no período colonial que são candidatos a patrimônio do mundo é um marco
na vida do equipamento. Sua capacidade de resistência, sua presença na
vida do Recife metropolitano, seu capital simbólico acumulado ao longo da
história, sua marca que resistiu além da forma, serão certamente fortalecidos
com o reconhecimento da Unesco. Mas, a nossa responsabilidade como
conservadores e difusores desse patrimônio cresce e exige de nós uma nova
percepção da importância desse bem para a história do mundo", afirma
a diretora do Museu da Cidade do Recife, Betânia Correa de Araújo.
Segundo
o Iphan, a proposta é que, ao final do evento desta semana, seja assinada a Carta
do Recife, documento com diretrizes para o estabelecimento de parcerias
público-privadas e para a certificação de destinos patrimoniais, visando
acordos específicos para cada fortificação com a definição de diretrizes de
trabalho que deverão nortear o desenvolvimento das ações de cada um deles. Para
este encerramento, estão previstas as presenças do ministros Roberto Freire
(Cultura), Defesa (Raul Jungmann), Mendonça Filho (Educação) e Marx Beltrão
(Turismo).
Durante
o seminário, serão ainda apresentados alguns cases de sucesso de modelos de
governança de fortificações, considerados referências para o resto do mundo,
como Fortaleza de Tapirandú, no Morro de São Paulo (BA) e o Forte de Nossa
Senhora Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). O trabalho de reuso das instalações
históricas desenvolvido no Forte das Cinco Pontas também será apresentado por
Betânia Correa de Araújo.
Segue
a lista completa das 19 edificações brasileiras que compõem o Conjunto de
Fortificações do Brasil e são candidatas à certificação da Unesco, com
destaque para os três equipamentos pernambucanos contemplados:
Forte
São Tiago das Cinco Pontas
O
Forte das Cinco Pontas foi erguido em 1630 por ordem de Frederik Hendrik
(1584-1647), primo de Maurício de Nassau. A fortaleza foi batizada com o nome
do príncipe, mas, devido à forma pentagonal, passou a ser denominada de Forte
das Cinco Pontas. Com a tomada pelos portugueses, em 1654, foi feita a primeira
grande reforma na edificação, reconstruída em pedra e cal e apenas com quatro
pontas. A obra foi concluída em 1684 e rebatizada de Forte de São Tiago. Com a
expansão da cidade, a fortaleza perdeu seu sentido de defesa e passou a ter
novos usos: entre os séculos 18 e 19, funcionou como depósito geral e prisão;
no início do século 20, foi quartel militar e, em 1938, foi tombado patrimônio
nacional. Durante o final da década de 1970, sofreu outra grande reestruturação,
dessa vez para sediar as instalações do Museu da Cidade do Recife.
Forte
de Santa Cruz (Orange)
Com
nome oficial de Forte de Santa Cruz, o Orange é um dos testemunhos da ação
portuguesa e holandesa em Pernambuco durante o período colonial. O monumento
foi construído em 1630 por militares holandeses, da Companhia das Índias
Orientais, e sofreu diversas mudanças em sua estrutura desde a restauração
portuguesa de 1654, mudando seu nome para Forte de Santa Cruz. Em pedra
calcária e alvenaria de cal, foi tombado pelo Iphan em 1938 e é gerido pela
Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco.
Forte
São João do Brum
A
origem do Forte São João Batista do Brum remonta a 1595, quando foi erguido por
corsários ingleses, sob o comando de James Lancaster. Mais tarde, o Forte
passaria por várias expansões e modificações. Uma delas, que marcou a sua
história, foi conduzida pelos holandeses, sob o comando de Schans de Bruyne, e
transformou a edificação num dos principais pontos de resistência para o
cerco das forças luso-brasileiras, entre os anos de 1630 e 1635. Tombado pelo
Iphan desde 1938, o Forte pertence ao Exército Brasileiro e abriga atualmente o
Museu Militar.
Fortaleza
de São José, em Macapá (AP)
Forte
Coimbra, em Corumbá (MS)
Forte
de Príncipe da Beira, em Costa Marques (RO)
Fortaleza
dos Reis Magos, em Natal (RN)
Forte
de Santa Catarina, em Cabedelo (PB)
Forte
de Santo Antônio da Barra, em Salvador (BA)
Forte
São Diogo, em Salvador (BA)
Forte
São Marcelo, em Salvador (BA)
Forte
de Santa Maria, em Salvador (BA)
Forte
de N. S. de Mont Serrat, em Salvador (BA)
Fortaleza
de Santa Cruz da Barra, em Niterói (RJ)
Fortaleza
de São João, no Rio de Janeiro (RJ)
Fortaleza
de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá (SP)
Forte
São João, em Bertioga (SP)
Fortaleza
de Santa Cruz de Anhantomirim, em Governador Celso Ramos (SC)
Forte
de Santo Antônio de Ratones, em Florianópolis (SC)
Fotos:
Andréa Rêgo Barros/Arquivo PCR.
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