Abandonar
a carreira, a rotina e os hábitos em prol dos cuidados de alguém pode
parecer uma atitude extrema para alguns, mas para outros é
necessidade. Seja por uma doença terminal ou incapacitante, cuidar de
um familiar nessa situação exige tempo e dedicação praticamente integral, o que
na maioria das vezes prejudica as relações interpessoais e a vida
profissional.
Por
ser uma situação que demanda preparo psicológico do cuidador, é preciso ficar
atento às reações de cada um nesse processo de mudança, pois uma
pessoa que abdica de sua vida em prol do cuidado do outro pode, se não estiver
emocionalmente fortificada, desenvolver depressão, estresse, angústia
exacerbada e baixa autoestima. Isso ocorre porque, apesar de ser uma
demonstração de afeto e compaixão pelo próximo, cuidar de um familiar
pode ser emocionalmente desgastante, tendo em vista a dedicação total que a
atitude exige.
Cuidar de
alguém em estado terminal também faz com que a relação entre o cuidador e o
doente entre em uma nova fase. “A pessoa não existe mais da maneira que
conhecíamos, então precisamos fazer uma ressignificação do relacionamento que
temos com ela. Ao contrário do que muitos pensam, o luto não está ligado apenas
à morte, mas quando há uma quebra de vínculo de qualquer natureza. É possível,
portanto, que as pessoas iniciem o processo de luto mesmo que o familiar esteja
vivo”, explica Mariana Simonetti, psicóloga do luto do Morada da Paz.
Trata-se
de um processo que afeta de maneira significativa a maneira de lidar com a
morte do familiar. “O luto é uma experiência singular e individual. É natural
ouvirmos de quem passou por essa experiência que elas já estavam
preparadas para a morte do parente, justamente por acompanhar todo o
processo. Outros passam a vivenciar um luto com culpa, achando que não fizeram
o bastante ou não estiveram presentes o suficiente. Estes casos demandam mais
cuidados”, diz Mariana.
No
entanto, é possível viver esse momento sem que a saúde do cuidador seja
prejudicada emocionalmente ou psicologicamente, com sintomas como gastrite e
insônia. Para isso, o auxílio psicológico precisa ser buscado de
imediato. É importante que o cuidador tenha o suporte de alguém e o
psicólogo é de extrema importância nesse processo, pois a pessoa pode desabafar
e falar o que sente sem se sentir culpado, apenas no intuito de retirar um
pouco o peso da situação.
Texto: Anderson Lima
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