Dentro
do centro cirúrgico, ocorre a aplicação da anestesia, na região lombar da
paciente, entre duas vértebras da coluna. A dor da picada não é intensa, mas é
perceptível. Existem três variações de anestesia: a raquidiana (ou
raquianestesia), a peridural e o duplo bloqueio. Todas prezam pela
possibilidade da mãe permanecer acordada durante o parto, mas sem sentir dor do
peito para baixo. Qual (ou quais) será utilizada no parto depende de cada caso.
“A aplicação da anestesia é direcionada de acordo com a paciente, seu quadro
clínico, a situação do trabalho de parto, entre outros fatores”, afirma o
anestesiologista Dr. Oscar César Pires, Diretor do Departamento Científico da
Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA).
A
diferença básica entre os tipos de anestesia é o local onde o anestésico é
aplicado. “A ráqui é administrada muito próxima aos nervos da medula espinhal”,
explica o Dr. Ricardo Goldstein, anestesiologista do Hospital Israelita Albert
Einstein. “Já a peridural é colocada em um espaço mais distante e com uma
membrana separando-a dos nervos. O duplo bloqueio nada mais é que a combinação
entre as duas técnicas: um cateter é colocado dentro do espaço peridural para
posterior administração do anestésico durante o trabalho de parto”. Além disso,
existe uma diferença de intensidade dos medicamentos e tempo do efeito de cada um:
a raquidiana é administrada em menor volume (2 ou 3 ml) e tem efeito total em,
no máximo, 2 minutos, enquanto a peridural, que leva de 7 a 10 minutos
para anestesiar a paciente, pode chegar a um volume de até 30 ml.
Assim
que a anestesia faz efeito, é realizada uma incisão transversal de
aproximadamente 10 cm na pele, por cima do osso púbico (naquela região
conhecida como “linha do biquíni”), e outra menor no útero, cortando oito
camadas de tecido no caminho. Rompida a parede uterina e a bolsa das águas, o
médico tem acesso ao bebê, que é puxado. Fora da barriga, ele é avaliado por um
médico, que verificará sua oxigenação, cortará o cordão umbilical e o entregará
para o neonatologista, para uma avaliação mais completa. Tudo correndo bem, ele
será mostrado à mãe e entregue ao acompanhante, enquanto a placenta é retirada
e os pontos são dados em cada uma das camadas de tecido cortadas. Caso
não haja maiores complicações, a cesárea dura cerca de uma hora.
Pós-parto da cesárea
Como
toda cirurgia, a cesariana tem uma etapa inevitável: o pós-operatório. A
intensidade e duração das dores, desconfortos e limitações da paciente variam
para cada pessoa, mas, mesmo nos casos mais simples, o pós da cesárea tende a
ser pior que o do parto normal.
O
que acontece após a finalização dos pontos varia de hospital para hospital. “Em
alguns hospitais, já é uma prática comum permitir que a mãe fique na sala de
cirurgia por um tempo maior”, afirma a Dra. Alessandra Bedin. “Dessa forma,
assim que ela se recupera da anestesia, já pode segurar o bebê e tentar
amamentar em um ambiente mais protegido”. Outras instituições normalmente levam
a mãe para uma sala para se recuperar dos medicamentos. Após cerca de uma hora
e meia, o efeito passa e a mãe pode segurar seu filho.
Independente
dos procedimentos da instituição, a recomendação é que a paciente fique de 6 a
12 horas mais quieta, sem fazer esforço. É necessário ficar, no mínimo, 48
horas internada antes de receber alta, mas esse período pode se estender por
até 60 horas ou até mais, em casos em que tenha havido algum tipo de
complicação durante o parto.
Desse
ponto em diante, o desenvolvimento varia de caso a caso. Segundo a Dra. Lucila
Nagata, a dor mais intensa deve passar entre 5 e 7 dias, mas dores menores e
desconfortos podem chegar a durar semanas ou até meses. Muitas mulheres que
optam pela cesárea por medo da dor do parto normal se alarmam ao saber que não
conseguirão evitá-la na cesariana também. “A dor é uma defesa”, explica a Dra.
Bedin, “e, a não ser que seja acompanhada por sangramento, é perfeitamente
natural”. É necessário lembrar sempre que, ao optar por realizar uma cesariana,
você está se submetendo a uma cirurgia e a recuperação, por mais tranquila que
seja, terá suas dificuldades.
A
Dra. Bedin destaca o uso de medicamentos para ajudar na manutenção desse
período: “Com o uso de analgésicos e anti-inflamatórios, o pós da cesárea não é
mais o monstro que já foi”, diz ela. No entanto, reconhece que o parto normal
apresenta muito menos desconfortos para a paciente, que se sente mais à vontade
para se movimentar e cuidar do bebê desde cedo. Ambas as médicas aconselham a
utilização da cinta modeladora para amenizar a dor, mas alertam sobre a
necessidade de discutir esse uso com o médico antes. Exercícios leves, como
yoga, caminhadas e alongamentos, só após 30 dias e apenas com autorização
médica.
Parto cesárea: entenda
os riscos
Apesar
de ser uma prática comum, muitas vezes se passa por cima do fato de que a
cesariana não é um procedimento simples.
Na
opinião da Dra. Lucila Nagata, ginecologista obstetra do Hospital Materno
Infantil de Brasília, trata-se de uma cirurgia de médio porte. “Apesar dos
muitos avanços para aumentar a segurança, sempre há riscos envolvidos em uma
cirurgia, como sangramentos, infecções e reações à anestesia.” esclarece.
Os
riscos vão além da saúde da mãe e podem afetar também o bebê. “Em cesáreas
marcadas previamente, pode acontecer de o bebê ainda não estar pronto para
nascer. Se o procedimento for levado em frente mesmo assim, ele pode ter
problemas respiratórios e precisar ser ligado a um respirador”, explica a Dra.
Bedin. Em cesáreas em que o parto normal já havia sido tentado, esse problema
não é comum: a não ser que o bebê seja prematuro, o fato de ter entrado em
trabalho de parto natural significa que ele já está pronto para nascer, o que
facilita a cirurgia.
Em
algumas situações, alguma condição preexistente da paciente pode acarretar em
possíveis riscos na cesárea, mas nenhuma é proibitiva. “Uma mulher com
problemas cardiológicos está sujeita a maiores riscos ao realizar a cirurgia”
diz a Dra. Nagata. “Por outro lado, os riscos não são inexistentes no parto
normal: o excesso de esforço pode ser ainda mais prejudicial do que o trauma da
cirurgia”.
Nádia
Zanon Narchi, coordenadora do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências
e Humanidades da Universidade de São Paolo (EACH-USP), atenta para a falta de
comunicação entre a paciente e o médico durante a gestação. “Muitas mulheres
que optam pela cesárea ou a aceitam por recomendação do médico desconhecem as
repercussões que uma cirurgia como essa pode ter em seus corpos”, afirma ela.
“Embora o procedimento seja muito mais seguro hoje em dia, existe uma série de
complicações que podem vir a acontecer no futuro, como uma má cicatrização do
útero ou uma possibilidade maior de abortar em alguma próxima gravidez”. Para
ela, um dos motivos de muitas mulheres optarem previamente pelo parto cesárea é
uma imagem negativa e nem sempre real do parto normal. “A repercussão que
existe do parto normal é de que ele é uma coisa extremamente dolorosa, violenta
e solitária. Não precisa ser assim, mas as mulheres têm muito medo dessa visão
e buscam a alternativa da cesárea, que é vista como um parto mais moderno.”
Independente
da condição física da gestante ou da maneira como sua gravidez se desenvolveu,
é essencial que ela se comunique constantemente com seu médico, busque outras
opiniões e pesquise muito a respeito de todos os riscos que podem decorrer de
uma cesariana, para estar bem informada antes de tomar uma decisão.
Quando a cesárea é
necessária
•
Quando a placenta cobre o colo do útero, impedindo a saída do bebê – a chamada
placenta prévia. A cirurgia é agendada antes de o trabalho de parto ter início,
para não haver risco de sangramento. O diagnóstico só acontece a partir da 30ª
semana.
•
Quando há descolamento prematuro da placenta.
• Quando a mãe tem aids. Se a carga viral for alta ou desconhecida, a cesárea
deve ser agendada. Se a carga viral for indetectável, pode ser parto normal.
•
Se a mãe tem herpes genital, com uma lesão ativa até 1 mês antes do parto. Quem
tem a doença pode prevenir as lesões tomando medicamentos.
•
Em alguns casos raros de doenças cardíacas.
• Se o bebê está atravessado. Antes, o médico pode tentar ajudá-lo a ficar na posição correta.
• Se o bebê está atravessado. Antes, o médico pode tentar ajudá-lo a ficar na posição correta.
•
Quando o cordão penetra no canal de parto antes da cabeça do bebê. Também só
será possível perceber isso depois de o trabalho de parto ter começado.
•
Quando o bebê apresenta uma redução drástica no fluxo de oxigênio ou nos
batimentos cardíacos. Isso acontece apenas em torno de 1% dos casos.
•
Se a abertura do colo da mãe é pequena para o bebê, algo que ocorre em menos de
5% dos partos.
Casos que devem ser
estudados com o médico
•
Se o bebê estiver sentado e a mulher já tiver tido parto normal antes.
• Quando foram feitas duas ou mais cesáreas anteriores.
• Quando foram feitas duas ou mais cesáreas anteriores.
•
Se a mulher tem defeitos na bacia, algo que provavelmente ela já descobriu
antes de engravidar, por meio de um simples exame de toque.
•
Se a criança está frágil demais, ou seja, se há retardo do crescimento.
•
Se o parto para de progredir. Nesse caso, há recursos para estimular a
continuidade, como o hormônio ocitocina.
•
Se há alteração na circulação do sangue entre mãe e bebê, medida pelo exame de
dopplerfluxometria.
•
Pressão alta na gravidez (acima de 13 x 9). Em muitos casos, o ideal é acelerar
o parto com o uso de ocitocina.
•
Quando a mãe tem pré-eclâmpsia, doença típica da gravidez que eleva a pressão
arterial, o parto também deve acontecer rápido. Mas é possível prevenir a
doença com um bom pré-natal, dieta balanceada e aspirina para quem tem risco.
Quando a cesárea não é
necessária
•
Cordão enrolado no pescoço do bebê (não importa quantas voltas), desde que o
bebê esteja bem.
• Falta de dilatação. Pode ocorrer por um distúrbio raro no colo do útero
(menos de 1% das mulheres o têm), mas, na maioria das vezes, se não dilatou é
porque não chegou a hora mesmo.
• Se passou da semana número 40 da gravidez. É normal esperar até 42 semanas,
monitorando o bebê.
•
Se a mulher tem mais de 35 anos.
•
Se a mulher teve uma cesárea anterior.
• Se o trabalho de parto está demorado. A mulher pode passar vários dias
sentindo algumas contrações, sem ter entrado em trabalho de parto. Os médicos
só consideram trabalho de parto quando há mais de 3 cm de dilatação e contrações
regulares. Aí, então, o processo pode levar entre 8 e 18 horas.
•
Bacia estreita (esses casos são raríssimos e, em geral, a mulher já descobriu a
alteração antes).
•
Bebê grande demais (um bebê precisa ter mais de 4,5 quilos para ser considerado
grande. É bem raro).
•
Se a mulher tem verrugas genitais, mioma ou HPV (a não ser que obstruam a
passagem do bebê).
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Fonte para nossa postagem:
Revista BebêRevista Crescer
Revista BebêRevista Crescer
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